EUA e UE já negociam acordo comercial que teria impacto mundial
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- 18/06/13
Os Estados Unidos ganharão mais do que a União Europeia (UE) com um possível acordo comercial transatlântico, segundo estudo divulgado ontem. O relatório conclui que o acordo, se aprovado, reduzirá os fluxos comerciais internos na Europa e prejudicará muitos países em desenvolvimento.
Segundo o instituto alemão Ifo, um pacto comercial levará a um aumento de 13,4% da renda per capita americana, em termos reais, no "longo prazo", e a uma alta de apenas 5% nos 27 países da UE. O levantamento, encomendado pela fundação Bertelsmann, sem fins lucrativos, pressupõe que os EUA e a UE fechem um ambicioso acordo que diminua as tarifas do comércio transatlântico e harmonize e atenue a regulamentação em muitos setores, frequentemente mencionada como a origem de barreiras comerciais não tarifárias.
Essa perspectiva foi posta em dúvida na última sexta-feira, após a França ter conseguido manter os setores cinematográfico, televisivo e fonográfico europeus fora das prerrogativas da Comissão Europeia para negociar o acordo, pelo menos temporariamente. As autoridades americanas advertiram que a iniciativa de interpor uma "exceção cultural" poderá levar a exclusões semelhantes de sua parte, o que poria em xeque a formulação de um pacto abrangente.
A análise que mostra que os EUA terão mais vantagens num possível acordo poderá reforçar o entusiasmo americano e elevar o ceticismo europeu justamente no início das negociações, lançadas formalmente ontem. Porém, dados mostram que a UE receberá o tão necessário empurrão econômico de um comércio mais aberto, apesar de os EUA lucrarem mais.
Para os partidários e defensores da integração europeia, o estudo ofereceu resultados divergentes. Por um lado, os dados sugerem que o acordo não levará ao aumento da disparidade econômica no âmbito da Europa, temido por alguns. De fato, o possível acordo gerará impulsos ao crescimento superiores à média em alguns dos países mais economicamente problemáticos da Europa, como Espanha e Grécia.
No entanto, os fluxos comerciais dentro da UE cairão, diante do aumento de volume dos produtos e serviços fornecidos pelos EUA. Isso pode ser perturbador para alguns países-membros. Por exemplo, o comércio da Alemanha com Reino Unido, França e Itália encolherá, efeito também previsto para o intercâmbio comercial do Reino Unido com Irlanda, Espanha, França, Itália e Alemanha.
"Do ponto de vista econômico, não é um grande problema, mas, do ponto de vista político (...) se algo desse tipo acontecer, será difícil manter a coesão entre os países", disse Ulrich Schoof, gerente de projeto da fundação Bertelsmann.
Um amplo acordo EUA-UE também trará danos para o mundo como um todo. Países avançados como Canadá, Austrália e Japão enfrentarão problemas, assim como muitas economias emergentes. O México e o Chile, que têm sólidos laços comerciais com os EUA, estarão entre os principais prejudicados, juntamente com a maioria dos países da África, Ásia e a América Latina, à exceção do Brasil.
Os fluxos comerciais da China com os EUA encolherão, mas o impacto sobre a renda per capita total da China será de apenas 0,4%.
A metodologia empregada pelo Ifo - baseada na análise econométrica de outros acordos comerciais, como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, nas iniciais em inglês) e no próprio mercado único europeu - mostra efeitos comerciais maiores que os modelos anteriores. Mas, se EUA e UE fecharem um acordo destinado a apenas baixar tarifas, o impacto sobre a economia será pequeno para ambos os blocos, como também para o resto do mundo.
O maior beneficiário da UE num cenário de "liberalização profunda" será o Reino Unido, que verá seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita subir 9,7%. O ganho da França será menor - de 2,64%. As vantagens da Alemanha também ficarão abaixo da média, em 4,68% enquanto o impacto na Suécia, Irlanda e Finlândia superará a média.
Em termos de nível de emprego, o estudo detectou que um agressivo acordo transatlântico criará 1,1 milhão de empregos nos EUA, 400 mil no Reino Unido e de 100 mil a 200 mil na Alemanha, Itália, Espanha e França.
Fonte: Valor Econômico