Lista de 10 melhores autores de nanoarte tem dois brasileiros

Fonte: Correio Braziliense
Não há dúvidas de que cientistas são apaixonados por seu trabalho. Horas intermináveis de estudo e pesquisa rendem descobertas inusitadas, mas também podem dar origem a verdadeiras obras de arte. Há alguns anos, quando a nanotecnologia virou assunto da moda, muitos pesquisadores perceberam que as imagens registradas pelos microscópios podiam encantar, até mesmo, pessoas que nunca pisaram em um laboratório. Surgiu, então, a nanoarte, um movimento que, segundo seus idealizadores, vai se tornar o que a fotografia foi para o século 21.
A nanoarte é, basicamente, a interação entre ciência, tecnologia e manifestações artísticas. Os protagonistas desse novo estilo investem na confecção de “paisagens moleculares”, como se fossem pinturas feitas a partir da mistura de materiais minúsculos, observados em aparelhos de alta resolução. Os artistas-cientistas também produzem nanoesculturas, criadas por meio da manipulação de substâncias em escala nanométrica. “Cada material tem uma morfologia diferente e, muitas vezes, um mesmo material pode apresentar diferentes morfologias, dependendo da temperatura, dos reagentes químicos, do tempo que ficou na estufa”, explica Rorivaldo Camargo, técnico em microscopia do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) dos Materiais em Nanotecnologia.
Camargo está na lista dos 10 melhores artistas de nanoarte de 2011, ranking definido em um concurso internacional no qual a banca é composta por grandes nomes da ciência e da arte. Ele levou o sexto lugar pela obra Starfish, uma montagem feita sobre fotografias de esponjas-do-mar. O técnico e outros colegas do instituto utilizam imagens captadas pelos alunos de graduação e pós-graduação em microscópios que ampliam o material em até 1 milhão de vezes. “Os estudantes trabalham com uma série de substâncias e algumas geram cenas muito interessantes”, diz.
Com essa matéria-prima, Camargo vai ao Photoshop e testa camadas de cores, saturação e brilho. O trabalho do artista-cientista é tão determinante que pode gerar imagens muito distintas, mesmo quando se trata do mesmo material. Prova disso é a outra obra brasileira que ganhou destaque no concurso Nanoart 2011. Em O nascimento do mundo, como foi batizada, a auxiliar de laboratório Daniela Caceta também utilizou esponjas-do-mar, mas aproveitando outras estruturas e tonalidades.
Conquista
Quem já está no ramo há algum tempo afirma que o resultado dessa mistura estimula mais pessoas a terem contato com a ciência. “Os amadores acabam se envolvendo com o assunto pela curiosidade que as imagens despertam”, diz Rorivaldo Camargo. “A partir da nanoarte, o público consegue entender certas funções dos materiais e organismos vivos”, comenta Daniela. Para Cris Orfusco, curador do Nanoart 2011, essa manifestação terá importância cada vez maior. “Trata-se de uma das maneiras mais inovadoras de promover a nanotecnologia para o público em geral”, opina. “Uma vez que isso estará em evidência nas próximas décadas, sugiro que todos fiquem ligados na nanoarte.”
Multiprofissional
A nanoarte deu origem a uma nova classe de artistas. Parte deles são técnicos e auxiliares de laboratório que começaram a manipular as imagens por hobby. Outros são cientistas que se envolveram no assunto. Há, ainda, artistas que estão em contato permanente com pesquisadores e fazendo um trabalho conjunto. É o caso de Carol Flaitz, autora da obra Preso do lado direito do cérebro. O quadro é resultado da parceria entre ela e o marido, um microscopista de Nova York.